13 abril 2014



Completam-se hoje 25 anos sobre o falecimento de D. António Ferreira Gomes (Milhundos,  10 de Maio de 1906 —Ermesinde, 13 de Abril de 1989), Bispo da Diocese do Porto de 1952 a 1982, que "ousou" desafiar  Salazar.
Datado de 13 de Julho de 1958, o texto que ficou conhecido por Carta a Salazar, não era uma carta,  muito menos uma "carta aberta".
Tratava-se de um memorando para uma entrevista com António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros, no qual se enumeravam os temas a ser tratados nesse encontro.
Como escreveu in Colegialidade Episcopal e o Reino de Deus, "Não fiz «carta aberta», não desejei nem promovi a sua difusão, para além do que no texto se diz; nem sequer até hoje autorizei ou autentiquei qualquer do folhetos que por aí circulam com esse nome de «carta aberta»".
Em virtude de quebras da confidencialidade, o documento teve uma larga difusão, mormente na clandestinidade, como o comprova a reprodução ao centro, onde não consta a identificação dos responsáveis da edição ou da respectiva impressão.
Vivia-se em Portugal um clima de movimentação política no rescaldo das eleições presidenciais de 1958, com a participação do General Humberto Delgado.
O texto é um documento de uma época e das preocupações de um Homem da Igreja face aos problemas que ela levanta.
Foi a primeira vez que uma voz da Igreja questionou o corporativismo como doutrina oficial do regime; com a afirmação, peremptória, de que o direito à greve, considerado crime, é defendido pela doutrina da Igreja;  a defesa do sindicalismo livre e não tutelado pelo Estado corporativo; a coragem de falar da criação de partidos, quando se vivia sob a lei do partido único, a União Nacional.
Este "pró-memória", pelos temas que levanta e pela "bandeira" em que o transformaram, é um marco de uma época.

Apud  D. António Ferreira Gomes, «Carta a Salazar» ( em cima, à direita), Prólogo de Fernando Ferreira Gomes, Edições do Tâmega, Amarante, 1993 (capa Brasão de Armas episcopal de D. António Ferreira Gomes)