19 novembro 2016

O ALMOCREVE DA REPÚBLICA-PADRE BARROS GOMES,VÍTIMA DA REPÚBLICA

«PADRE BARROS-GOMES, VICTIMA DA REPÚBLICA», P. Bráulio Guimarães C.M.
Morto a tiro a 5 de Outubro de 1910, no Palácio de Arroios
Organização dos Padres Manuel Aguiar e Agostinho de Sousa, da Congregação da Missão
Prefácio de D. Manuel Clemente, Bispo Auxiliar de Lisboa
© 2006, Congregação da Missão - Padres Vicentinos e Alêtheia Editores Associando-se ás comemorações do Centenário da República em Portugal, a Alêtheia Editores dá a conhecer a história de uma das vítimas das primeiras horas da República.




    Bernardino Barros-Gomes (1839-1910), bacharel em Matemática e licenciado em Filosofia pela Universidade de Coimbra em 1860, partiu nesse mesmo ano para a Alemanha, onde frequentou a Academia Florestal de Tharandt, cujo curso concluiu em 1862.

   No ano seguinte regressou a Portugal e ficou adido à Repartição de Agricultura. Veio para a Marinha Grande em 1866 para elaborar a planta cadastral do Pinhal, sendo nomeado Administrador das Matas.

   A reforma do Regulamento do Serviço das Matas Nacionais, em 1872, dividiu o país em 3 divisões florestais: Bernardino Barros Gomes foi nomeado Chefe da Divisão do Norte até 1874. De 1874 a 1879 foi Chefe da Divisão Florestal do Sul, terminando as suas funções como Chefe da Divisão Florestal do Centro, de 1879 a 1883. 
  Bernardino Barros Gomes dirigiu o Pinhal de Leiria deixando obra incomparável. Insigne silvicultor, continuou o trabalho de Warnhagen dando ao Pinhal o ordenamento devido, dividindo-o em talhões, através da abertura de aceiros e arrifes. Elaborou, em 1882, a primeira Planta Geral da Mata de Leiria, criou a escrituração técnica do Pinhal e instalou os primeiros postos de meteorologia. Foi também Bernardino Barros Gomes quem propôs a abertura das primeiras estradas: Marinha Grande - S. Pedro de Moel e Marinha Grande - Vieira de Leiria.
  Barros Gomes introduziu em Portugal os estudos de ordenamento e de economia florestal, procedendo a levantamentos cartográficos minuciosos de muitas áreas. Profundo conhecedor da flora portuguesa, relacionou a repartição das espécies florestais com o meio, implementando também os primeiros estudos fitogeográficos. Legou ao País, como cientista e técnico competente, inúmeras publicações, entre relatórios oficiais e sínteses das suas reflexões, para além de mapas que ilustravam uns e outros.
   As suas actividades levaram-no a palmilhar o País e a conhecê-lo a fundo, o que lhe permitiria vir a escrever sínteses notáveis, reunindo as suas observações. A partir das características naturais do território português, esboçou uma divisão regional, proposta em Carta orográfica e regional de Portugal (1875), tendo por base a Carta Geográfica 1:500 000 (1865) dirigida por F. Folque. Ao relevo associou os contrastes climáticos e a repartição da população, num trabalho pioneiro sobre o qual assentariam, meio século depois, as regiões geográficas de A. de Amorim Girão, H. Lautensach e O. Ribeiro.   No Relatório da Administração Geral das Matas relativo ao ano económico de 1879-1880 (1891) foram publicadas, da sua autoria, 9 cartas do conjunto de Portugal (1:1 000 000) com a distribuição das principais espécies florestais, entre as quais o pinheiro manso e bravo, a azinheira, a alfarrobeira e o sobro.
Distribuição das espécies florestais em Portugal segundo B. Barros Gomes: o sobro (1881).
Supõe-se que elas tenham estado na base da preparação de uma outra representação sua, a carta dos arvoredos ou Carta xilográfica de Portugal (1876). As Cartas elementares de Portugal (1878) foram o seu último trabalho de fôlego: este atlas, com cinco pequenos mapas e respectivas descrições, condensa o essencial dos seus estudos e observações, que ultrapassaram a ciência florestal. Ele foi geógrafo “malgré lui”, no dizer de O. Ribeiro, esse outro verdadeiro e destacado geógrafo português.
Embora destinadas ao ensino, pouca repercussão, no entanto, estas Cartas nele parecem ter tido.(1)
   
   Em 1884, já viúvo, entra para a Congregação da Missão e é ordenado sacerdote, passando a dedicar-se à vida religiosa e ao serviço dos pobres. Conhece a morte, pelas mãos dos revolucionários republicanos, no dia 5 de Outubro de 1910, em circunstâncias trágicas «com requintes de selvageria». Não obstante o relato detalhado, na obra a que fazemos referencia, do modo como ocorreu a morte de Bernardino Barros Gomes, bem como a do padre lazarista Alfredo Fragues (2), certas fontes têm vindo, persistentemente, a escamotear a verdade dos factos, atribuindo a mesma a "uma bala transviada" que "o atingiu mortalmente" (3).




  Em 1917, na Conferência Florestal, os Florestais portugueses alvitraram que se prestasse uma condigna homenagem àquele que foi o seu grande “Mestre”. No entanto, esta só veio a acontecer em 30 de Setembro de 1939, no centenário do seu nascimento, em Pedreanes, onde foi inaugurado um modesto mas significativo monumento. Na inauguração do monumento em sua homenagem estiveram presentes Silvicultores, Regentes Florestais e um pelotão formado por Guardas Florestais. O elogio do homenageado esteve a cargo do Silvicultor Júlio Mário Viana. Nesse mesmo dia foi plantado junto ao monumento um pinheiro manso já com três anos de idade, que hoje dá sombra ao monumento.(4)





MONUMENTO A BERNARDINO BARROS GOMES (5)


Localização: Marinha Grande, Freguesia da Marinha Grande, Estrada Principal do Pinhal do Rei, Pedreanes.
Data de Inauguração: 30-09-1939
 Promotor: Pessoal Florestal 
Materiais: Bronze (medalhão)
Descrição/ Tema: Medalhão de arte do século xx, de inspiração naturalista, com o homenageado retratado em vestes sacerdotais. Encontra-se integrado num maciço bloco com a representação em baixo relevo, da planta da área do “Pinhal de Leiria” em quadrículas, revelando a subdivisão do pinhal em “talhões”. Na base que consiste num bloco de pedra calcária, consta a inscrição: “AO INSIGNE / ENGENHEIRO DE FLORESTAS / BERNARDINO BARROS GOMES / O PESSOAL FLORESTAL / 30-9-1939”.
Historial: Monumento inaugurado no ano do centenário do nascimento de Bernardino António Barros Gomes (1839-1910), considerado um importante silvicultor no desenvolvimento do Pinhal de Leiria. Com cerca de 56 terá deixado esta atividade para se dedicar à vida religiosa.
Bibliografia: MENDES, José M. Amado Mendes, História da Marinha Grande, pg 161, ed. Câmara Municipal da Marinha Grande 1993; http://opinhaldorei.blogspot.pt/ [consult. 08-04-2014].
Bibliografia: Fotógrafo: Susana Paiva
Ano de Registo Fotográfico: 2005

Fontes:
(1) http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p59.html (2) sábado, agosto 25, 2007
(2) Vide FERREIRA, António Matos - Um católico militante diante da crise nacional : Manuel Isaías Abúndio da Silva : 1874-1914. Lisboa : Universidade Católica Portuguesa, Centro de Estudos de História Religiosa, 2007. ISBN 978-972-8361-25-9

"Para os republicanos, por seu lado, a questão religiosa tornara-se peça importante na questão política, no combate contra os monárquicos, mas também como forma de unir os republicanos procurando contrariar a contestação social, incluindo a que despontava e se afirmava nos sectores populares. Por tudo isto, a partir do 5 de Outubro, o novo regime produzira rapidamente medidas concretas em relação à Igreja católica, onde o anticlericalismo, que constituíra elemento central da propaganda e da luta republicana na sua raiz maçónica e jacobina, acabou por determinar não só a elaboração legislativa, mas também e definição de um ambiente social incentivador desses procedimentos.

Este cunho anticlerical, com características persecutórias, evidenciara-se nos primeiros passos da Revolução, tendo em conta que diversos membros do clero foram sujeitos a ultrajes, à prisão, e dois deles, os padres Barros Gomes e Alfredo Fragues, foram mesmo assassinados."

(3)sábado, agosto 25, 2007
A MENTIRA DAS OMISSÕES/VÍTIMAS
Augusto Ascenso Pascoal
(4) quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012 Bernardino Barros Gomes
JM Gonçalves
http://opinhaldorei.blogspot.pt/2012/02/bernardino-barros-gomes.html
(5) http://www.culturacentro.pt/museuit.asp?id=335

JFSR,19-11-2016